A sensibilidade que aparece depois de um branqueamento dentário é quase sempre descrita da mesma forma: um “choque”, um arrepio súbito ao ar frio, à água ou até ao simples toque. Para algumas pessoas, dura minutos; para outras, acompanha o dia como uma pequena corrente eléctrica que surge sem aviso. Não é agradável, mas também não significa que algo tenha corrido mal. A sensibilidade pós-branqueamento tem explicação biológica clara, limites que merecem atenção e formas de a prevenir ou reduzir sem comprometer o resultado. É aqui que a diferença entre “normal” e “sinal de alarme” passa a ser essencial.
Porque é que o branqueamento causa sensibilidade?
Durante o branqueamento dentário, agentes como o peróxido de hidrogénio ou de carbamida penetram através do esmalte para alcançar a dentina, onde se encontram pigmentos acumulados. Esse processo ocorre por difusão e é totalmente esperado. O que sabemos hoje é que as moléculas libertadas conseguem estimular fluídos dentro dos túbulos dentinários, ativando fibras nervosas e criando uma resposta transitória, semelhante à sensibilidade provocada por desgaste ácido ou escovagem excessivamente vigorosa.
Estudos clínicos mostram que a sensibilidade é a queixa mais comum em branqueamento, com prevalência entre 55% e 75% dos pacientes, variando conforme a concentração do agente e o tempo de aplicação. A boa notícia é esta: na maioria dos casos, o desconforto é transitório e diminui espontaneamente dentro de 24 a 72 horas. O mecanismo é irritativo, não destrutivo; não causa dano permanente na estrutura dentária.
O que é considerado sensibilidade “normal” após o branqueamento?
Nem toda a sensibilidade é igual e importa perceber os limites do que é esperado. Há um padrão típico e benigno:
• Surge durante a sessão ou nas 12 horas seguintes
• É desencadeada por frio, doces ou ar
• Tem duração curta, em “picos” de segundos
• Melhora com analgésicos simples
• Diminui progressivamente ao longo de um a três dias
Este tipo de sensibilidade está associado ao próprio mecanismo do branqueamento: abertura transitória dos túbulos dentinários e resposta nervosa aumentada. Não altera o esmalte, não “gasta” o dente e não compromete o resultado.
Há factores que aumentam a probabilidade de a sentir: recessões gengivais, abrasão cervical, esmalte fino, histórico de sensibilidade prévia, exposição frequente a ácidos ou escovagens duras. Nestes casos, o protocolo deve ser ajustado antes de iniciar o tratamento.
Quando a sensibilidade deixa de ser normal
Há situações que exigem atenção clínica porque apontam para outra causa além do branqueamento:
• Dor que não diminui após 72–96 horas
• Sensibilidade espontânea constante, não apenas provocada
• Dor pulsátil ou prolongada após frio (pode indicar inflamação pulpar)
• Sensibilidade localizada a um único dente, sempre no mesmo ponto
• Dor ao mastigar ou à percussão (pode ser fissura, cárie profunda ou lesão estrutural)
Estes sinais não são típicos de branqueamento e devem ser avaliados para descartar patologia pulpar ou lesões pré-existentes que o paciente desconhecia. Branqueamento não causa cárie nem fratura, mas pode “revelar” sintomas num dente que já tinha vulnerabilidade estrutural.

Como reduzir ou prevenir a sensibilidade pós-branqueamento
Uma intervenção bem planeada minimiza desconforto, mesmo em quem já tem histórico de sensibilidade. A literatura apoia várias estratégias:
• Aplicação prévia de fluoretos ou nitrato de potássio (1–2 semanas antes)
• Uso de dessensibilizantes entre sessões
• Ajuste de concentrações e tempos de aplicação
• Evitar bebidas ácidas nos dias próximos ao procedimento
• Escova macia e creme dentário específico para sensibilidade
• Pausas adequadas entre sessões (quando se trata de branqueamento supervisionado com moldeiras)
Estas medidas actuam reduzindo a excitabilidade das fibras nervosas e reforçando a remineralização do esmalte. Estudos indicam que nitrato de potássio a 5% reduz significativamente a sensibilidade quando usado antes ou depois do procedimento. Os vernizes fluoretados também desempenham papel central em diminuir a permeabilidade dentinária.
A hidratação adequada, o evitamento de temperaturas extremas e alimentos muito doces na fase imediata pós-tratamento ajudam a evitar estímulos excessivos sobre a dentina temporariamente mais sensível.
O que esperar nos dias seguintes e quando regressar ao dentista
O período típico de maior sensibilidade é o primeiro dia. No segundo e terceiro dias, a maioria das pessoas refere melhoria acentuada. Quando há desconforto mais persistente, medidas caseiras (cremes dentários específicos, aplicação de calor morno externo, analgésicos simples) tendem a ajudar.
Deve-se regressar ao dentista quando:
• a sensibilidade ultrapassa 4 a 7 dias
• há dúvida sobre a origem da dor
• existe suspeita de desgaste, recessão ou cárie prévia
• a dor incomoda as atividades diárias
A avaliação permite ajustar concentração, espaçar sessões ou aplicar agentes dessensibilizantes profissionais. Em casos raros, é preferível interromper o protocolo e restaurar primeiro a superfície cervical ou tratar inflamação pulpar antes de considerar novo branqueamento.
Conclusão
A sensibilidade pós-branqueamento é uma resposta comum, transitória e explicada pela difusão dos agentes clareadores através do esmalte. Na maioria dos casos, o desconforto dura apenas alguns dias, responde bem a medidas simples e não tem qualquer consequência para a saúde dentária. É fundamental distinguir o que é normal do que exige atenção: dor prolongada, dor espontânea constante ou sensibilidade muito localizada apontam para causas subjacentes que devem ser avaliadas.
A evidência é clara: branqueamento profissional, com avaliação prévia e protocolos ajustados, reduz significativamente o risco de desconforto excessivo e permite um resultado previsível e seguro. Sensibilidade pode acontecer; dano permanente não.
Referências científicas
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